A grande maioria de professores e gestores que atuam na contemporaneidade, durante seu processo de formação escolar, em algum momento, recebeu certa orientação que indicava a escola como um lugar sério, um espaço de crescimento que deve se organizar com muita disciplina. Não é mentira pensar sobre a seriedade do aprendizado e sua importância para a vida, mas a prática ensino-aprendizagem não precisa furtar-se à leveza do humor para ser efetiva. Já dizia Santo Agostinho, importante filósofo e teólogo da Idade Média, “ao ensinarem, procurem por mais alegria”.
Uma didática que aceita e incentiva o riso em sala de aula tem a capacidade de criar um fértil ambiente de aprendizagem, tornando a atividade satisfatória tanto para o professor quanto para o aluno. Pode até ser que o aluno acredite que “não gosta de estudar”, mas não existe ninguém que não goste de “aprender”. É a atitude positiva, assertiva e descontraída do professor em sala de aula que pode produzir a mudança neste eixo de compreensão. “Estudar” não precisa ser um sacrifício, pois “aprender” pode ser sempre interessante e divertido. Não é sem razão que na lembrança da vida escolar perduram aqueles mestres que nos faziam rir e pensar ao mesmo tempo.
Albert Einstein apontou para o valor desta atitude no ensino ao dizer: “a arte mais importante do mestre é a de fazer brotar a alegria no estudo e no conhecimento”. Balancear bom humor e conteúdo é ferramenta certeira para “ensinar melhor”. O riso em sala de aula produz interessantes fenômenos que servem ao processo educativo:
1. Facilita o aprendizado e a retenção de conteúdo
Muitos dos temas abordados em aula podem se tornar desinteressantes ao aluno porque são difíceis de aplicar ao cotidiano ou, por sua complexidade, exigem muito da atenção para entender. Utilizando o bom humor e a positividade ao explanar o conteúdo os alunos abandonam resistências naturais e quebram-se as barreiras que talvez os impediriam de fazer perguntas ou expressar certa insatisfação quanto a falta de clareza na explicação. Quando estas paredes se rompem, a comunicação entre alunos e mestres se fortalece e a aula se torna um espaço afirmativo e de alta retenção.
2. Diminui a tensão e o bullying escolar
Quando há humor na explanação do conteúdo e ele vem acompanhado de riso, há também aumento das emoções positivas no ambiente. Isto produz mudanças neuroquímicas no cérebro que limitam o stress, ansiedade, raiva e fomentam otimismo, cooperação e calma. Desta forma, o ensino impacta mais e os atritos entre colegas podem diminuir consideravelmente.
3. Estimula a criatividade e aumenta o engajamento
Para criar humor é preciso quebrar expectativas. O humor acontece na surpresa, no jogo de palavras, imagens ou histórias. Por isso, usá-lo em sala de aula pode fomentar a criatividade dos estudantes, possibilitando que desenvolvam cada vez mais a capacidade de pensar de diferentes formas na solução de problemas complexos. Com bom humor o conteúdo também é associado a emoções positivas, permitindo que o cérebro se mantenha concentrado no tema por mais tempo e criando a necessidade de interação. O aluno participa melhor e fica mais atento.
Como aplicar o humor em sua prática diária?
1. Planeje cuidadosamente a aula e entenda seu público
Antes de entrar em sala de aula pensando em ser divertido, planeje cuidadosamente o conteúdo e a quantidade que deve ser explorada naquele espaço de tempo. Pense também, com critério, como falar de forma divertida sobre os temas principais da aula. É importante conhecer para quem você está se dirigindo. Qual a origem cultural/regional de seus alunos? Conhecê-los bem é fundamental para saber que ideias são engraçadas e quais podem causar constrangimento. Ouça seus alunos, aprenda do que gostam e do que falam. Nunca use o humor depreciativo.
2. Use histórias
Sempre agregue na explanação histórias reais ou inventadas, casos que aconteceram com você ou com conhecidos. Pode ser uma forma eficiente e divertida de mostrar exemplos práticos. Esta prática produz identificação e aproximação. O docente também pode incentivar os alunos a contarem suas próprias histórias que exemplificam as situações em aprendizagem. Assim, um ambiente de confiança e engajamento é criado.
3. Crie associações divertidas (músicas, vídeos, memes e charges)
Mostrar relações entre o conteúdo e acontecimentos engraçados do cotidiano pode revelar que você está por dentro dos assuntos que eles conhecem. Crie relações, também, com outras disciplinas, professores, filmes e influenciadores que os alunos acompanham. Não é nada mal usar um ou outro vídeo curto. Os estudantes estão expostos diariamente a estes conteúdos e fazer esta associação pode ajudá-los a reter mais. Aposte em músicas e paródias para introduzir assuntos novos. Invista em pequenas pílulas de humor para melhorar a experiência do aluno com o seu conteúdo de aula. Memes, por sua vez, são a forma mais atual de humor. Ensinar usando memes, charges e caricaturas conhecidas é uma ótima ideia! Você também pode usá-los em exercícios, desafiando seus alunos a fazerem contextualizações, análises ou até criar os próprios memes e charges.
4. Utilize recursos tecnológicos e gamificação
A pandemia demonstrou que as tecnologias já são essenciais no processo ensino-aprendizagem. Longe de roubar a atenção, elas são ferramentas bastante úteis para engajamento. Use e abuse dos recursos digitais. Há muitos aplicativos que disponibilizam jogos educativos online. Pensar em maneiras de incluir tecnologias, que eles já utilizam para melhorar a experiência dos alunos e utilizar ainda mais do humor é mais fácil do que você pensa. Traga desafios, transforme exercícios em jogos, os incentive a criar infográficos divertidos e explicativos. Isto pode tornar sua aula excepcional.
5. Faça perguntas e contextualize os temas
Às vezes é difícil fazer com que os estudantes respondam sempre que você faz perguntas. Mas pense estrategicamente, levantando questões que os alunos se interessem em responder. Evite temas polêmicos para não gerar desconforto, mas demonstre que você tem vontade de saber a opinião deles sobre variados assuntos. Nunca se esqueça, no uso do humor, contextualize sempre. Isto gera identificação e interação. Elogie comentários, apresentações e perguntas. Demonstrar interesse pelo desempenho do estudante torna o espaço educativo mais interessante para todos os envolvidos.
Mas atenção! Tome alguns cuidados para não cometer erros no processo. Nunca use o riso apenas pelo riso. O humor não pode ofuscar o assunto. Lembre-se que você, naquele espaço, é o professor e não um comediante. O foco deve ser a mensagem em transmissão. Nunca faça piadas com temas polêmicos. É essencial respeitar individualidades criando um saudável e propício ambiente de aprendizado. O humor deve trazer alegria e leveza, nunca ofender ou diminuir.
Que tal começar uma experiência diferente de ensino? Afinal, rir não é difícil e pode melhorar muita coisa!