O estigma da produtividade

A vida do docente é repleta de diferentes responsabilidades e atividades que abarcam desde o planejamento de aulas anual e semanal, a atividade de ministração destas aulas em classe, correção e avaliação de atividades até a atuação nos variados espaços escolares (como reuniões e atividades gerais da escola). A maioria das instituições, por outro lado, espera do professor alta produtividade e resultados quando estas atuações são avaliadas no tempo. A necessidade de ser produtivo muitas vezes entra em conflito com as variadas atribuições e pode gerar adoecimento e infelicidade no ambiente de trabalho.

Muitas vezes, a cobrança por produtividade sobrecarrega o docente e coloca sobre ele responsabilidades individuais de lidar com problemas educacionais que também são sociais e coletivos. Problemas que dependem (não raras vezes) de investimento e atuação de outras frentes. A própria ideia de se manter produtivo para receber benefícios ou manter a vaga no trabalho é reconhecidamente um dos fatores que produzem maiores índices de problemas emocionais e físicos entre professores no ambiente escolar.

Pesquisa desenvolvida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) revela que 30,4% de professores apresentaram problemas de saúde nos últimos anos e 22,6% deles necessitaram de afastamento e licenças temporárias para tratamento. As principais enfermidades têm origem psíquica e neurológica, mas entram na contagem também problemas vocais, cardíacos e alergias.

Como o professor pode lidar de forma adequada com esta realidade? Como gestores podem melhorar a situação criando um ambiente saudável de trabalho?

Para gestores

O desempenho de docentes está completamente relacionado às condições de trabalho que são oferecidas, bem como um gerenciamento eficiente. A primeira coisa nesta empreitada é a construção de uma gestão moderna, que se foque em boas práticas de planejamento, carga horária adequada e bom uso da tecnologia. Com isto, professores tem as cargas aliviadas, o espaço escolar se torna funcional e o dia a dia mais saudável, alcançando produtividades esperadas.

1. Objetivos e metodologias:

É trabalho dos gestores definir objetivos e metodologias que a escola, como um todo, procurará seguir. Com isto, a trilha das aulas fica clara e mais proveitosa, há espaço para otimização evitando dispersões e mal aproveitamento do tempo em classe. O professor também consegue, desta maneira, elaborar atividades mais eficientes e interessantes, reforçando o conteúdo e a aprendizagem. Ao fim, o resultado se revelará no rendimento do aluno, que é o principal termômetro de produtividade nas escolas.

2. Carga de horário adequada

Geralmente, o grande vilão da produtividade é o cansaço. Se a carga horária é excessiva, o docente terá dificuldades de oferecer seu melhor todo o tempo. Portanto, é essencial que gestores consigam organizar a atuação de seus profissionais respeitando limites e prezando por um aproveitamento saudável da jornada de trabalho.

3. Incentivo a autonomia

Mesmo que a escola tenha estratégias e métodos gerais bem definidos, busque incentivar a autonomia do docente. Crie espaço para que ele possa organizar sua própria técnica de avaliação (mesmo que deva seguir certos parâmetros institucionais). Permitir que o professor desenvolva suas ideias de uma forma mais livre aumenta a motivação no ambiente de trabalho. Docentes motivados são mais produtivos.

4. Uso inteligente da tecnologia

Em tempos pós-pandêmicos, é claro o entendimento de que a tecnologia pode (e deve) ser uma principal aliada na atuação docente e consequente produtividade dos profissionais da educação. Deste modo, a gestão da escola deve preocupar-se em proporcionar mecanismos digitalizados e eficientes para planejamento, lançamento de notas, interação entre funcionários (e também entre professores e alunos) para que o melhor da informação seja preservado com qualidade e esteja facilmente acessível. Agilidade e acesso intuitivo aumentam grandemente a produtividade. Além do mais, ajudam a manter a ordem de qualquer gestão eficiente.

5. Relacionamentos saudáveis

O ambiente escolar deve ser equilibrado e acolhedor. Gestores precisam criar espaços de escuta, aconchego, debate em que qualquer sinal de ameaça permaneça afastado. O docente deve sentir que suas sugestões ou observações são aceitas e que ele pode buscar auxílio da administração em qualquer dificuldade que se apresente no caminho. Nunca incentive a competição entre professores, trabalho cooperativo e em equipe é essencial para instituições que desejam manter altos níveis de produtividade.

Para professores

Ansiedade, cansaço, estresse, conflitos entre colegas e com a administração geralmente são resultado de um ambiente de trabalho onde as expectativas sobre os professores é maior que as condições oferecidas. Por outro lado, docentes precisam sim enfrentar o ônus natural do ambiente escolar, que vem com variadas atividades intrínsecas ao trabalho e à necessidade de trabalhar em conjunto. Para evitar o adoecimento e manter uma saudável rotina de produção, seguem algumas dicas:

1. Evite a procrastinação

Um dos maiores responsáveis pela infelicidade, ansiedade e estresse com trabalho é o hábito de adiar tarefas que são consideradas difíceis ou que exigem tempo e concentração. Procrastinar é muito comum no dia a dia. Para se tornar mais produtivo sem estresse, não tenha medo de enfrentar as demandas. Busque sempre priorizar aquilo que incomoda ou que necessitaria tempo. Com tempo, o trabalho pode ser feito mais calmamente e com qualidade, sem a ansiedade natural do prazo apertado. Ao terminar a atividade que você gostaria de adiar, automaticamente o cérebro libera endorfina, gerando bem-estar e plenitude.

2. Desenvolva técnicas de gerenciamento do tempo

Se você tem dificuldade de organizar seu tempo e as demandas, não tenha medo de prender-se a agendas físicas (ou virtuais), planners bem detalhados. Se for preciso, anote tempo para cada atividade diária e acione alarmes para ajudar a controlar o trabalho. Tenha em mente, também, a quantidade correta de coisas que podem ser feitas em um dia. Não tente abarcar o mundo. Dedique-se por completo as coisas uma por vez. Ainda que pareça que você está trabalhando de forma lenta, a longo prazo isto será muito mais eficiente.

3. Não aceite mais tarefas do que consegue realizar

Seja consciente de sua energia, disponibilidade e condições físico-emocionais. Nunca aceite mais trabalho do que aquele que sabe que pode realizar. Às vezes, na tentativa de mostrar-se produtivo, um docente assume um grande número de atividades. Ao fim, o excesso pode resultar em adoecimento, infelicidade, dificuldade de equilíbrio na qualidade do que é entregue. Não há nada de errado em conhecer os próprios limites e habilidades.

4. Seja honesto e aberto a críticas

Ofereça feedbacks de sua atuação e contato com alunos, apresente suas dificuldades e desafios para a administração, solicite ajuda ou acompanhamento caso seja necessário. Busque um diálogo saudável e enriquecedor entre colegas e com seus gestores. Por outro lado, esteja também aberto a receber feedbacks e críticas, sempre alerta para melhorar seu desempenho ou modificar o modus operandi para maior qualidade no ensino, sucesso na prática e com os alunos.

Que escolas e professores possam ser mais produtivos, mas que esta produtividade venha repleta de felicidade, qualidade e planejamento visando a saúde de todos os envolvidos no processo educacional! Sucesso!

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