Novas relações com o “outro”

Estamos sempre em aprendizado. Desde o nascimento até o fim da vida o ser humano está fadado a experiências de troca, que podem acontecer em variados espaços. Embora a escola seja o principal ambiente de formação acadêmica, ela também é um importante vetor para o aprendizado informal que engloba, entre outras coisas, o valor das relações pessoais e da cooperação coletiva.

As experiências vividas no ambiente escolar devem contribuir para a formação de seres humanos melhores, mais engajados e conscientes do próximo. É aí que entra em ação a influência e exemplo pessoal do professor, e seu papel na promoção de ambientes mais colaborativos e humanos.  

Planejar atividades que envolvam a colaboração e, quem sabe, o voluntariado, é uma ferramenta poderosa para tornar o espaço educacional mais rico e produtivo. Muitos dos conteúdos dados em sala de aula, de forma expositiva, podem transformar-se em projetos que proponham aos alunos possibilidade de exercitar a empatia, inteligência emocional e compaixão. Estas são qualidades importantes para o mercado na contemporaneidade, além de contribuir na formação de seres humanos melhores, úteis em diferentes contextos da vida.

Desenvolver alguma atividade que inclua dedicar tempo voluntário em auxílio de colegas ou da comunidade pode ser uma experiência transformadora. E, além do mais, uma oportunidade para tornar o conhecimento teórico visível na prática. Allan Luks, em seu livro “The healing power of doing good” (em tradução livre, “o poder curativo de fazer o bem”), reflete, a partir de pesquisas, que quem realiza quatro horas de trabalho voluntário ao mês tem dez vezes mais chance de preservar a saúde. Esta constatação também é reforçada por outra pesquisa realizada por médicos na Universidade de Exeter, na Inglaterra. Os dados do estudo revelam que pessoas que se dedicam ao voluntariado têm uma taxa de mortalidade 20% menor.

Não é incrível saber que a simples escolha de dedicar tempo auxiliando o próximo tem efeito direto na longevidade? Como professor, ao incentivar o trabalho voluntário e criar oportunidades para que ele aconteça em seu entorno, você contribui duplamente na melhora das vidas sob sua influência. Cria possibilidade de tornar seus estudantes mais conscientes e humanos e promove um ambiente que potencializa a qualidade de vida de todos. Confira algumas dicas para colocar esta atitude em prática.

1.  Identificar problemas na comunidade

Convide seus alunos a analisem a realidade que os cerca e identificar problemas que parecem incomodar a todos. Um bom exemplo é pedir que os alunos observem as necessidades dos vizinhos, por exemplo. Na sequência, promova discussões em grupo para trocar essas experiências e ouvir ideias. Desse intercâmbio podem nascer boas propostas de ajuda ao próximo.

2. Imaginar soluções

Depois de identificar e compartilhar os problemas verificados no entorno, é hora de propor soluções. Que tal convidar os estudantes a arrecadarem alimentos para instituições ou ONGs que atendam crianças e jovens da idade deles? Ou então, propor que eles gerenciem uma feira de doações de roupas e agasalhos no bairro? Ou ainda que imaginem um sistema de coleta de lixo reciclável? Os resultados podem ser benéficos tanto para o aprendizado acadêmico quando para a vida em comunidade.

3.  Envolva a todos no processo

Para que o trabalho voluntário gere efeitos reais é importante envolver a todos, inclusive aqueles que serão beneficiados com a ação. Por isso, gaste tempo falando dessas pessoas e incentivando o grupo de voluntários a conhecê-las. Se quiser trazer números para fomentar as discussões, faça. Mas, não se esqueça que a empatia acontece quando entramos em contato com histórias reais.

4. Compartilhar resultados

Crie maneiras para expor ou divulgar o resultado das ações entre o grupo de alunos envolvidos, mas também para toda a escola. Registre os momentos de atividade voluntária em vídeo e fotos compartilhando sempre que for possível. Assim, a emoção de contribuir para melhorar a vida do próximo se torna uma onda, contagiando todos os que convivem nos espaços escolares. 

Tarefas que envolvem a todos em prol do bem comum geram sempre resultados inesperados e surpreendentes. Quem sabe, este pode ser o pontapé que levará seus alunos à novas práticas e percepções coletivas por toda a vida. Servir ao outro é um princípio fundamental da educação que preza por valores. Ensinar o olhar da alteridade – aquele que se volta ao outro, que se coloca no lugar do outro – é exercer uma linda influência em sala de aula. Que sua prática docente possa contribuir para a criação de espaços mais interativos, inclusivos e preocupados em olhar para o próximo. 

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