Educação socioemocional para professores

Todo processo educacional envolve variados aspectos relacionais. Pouco do ensino e aprendizagem acontece de forma isolada. O professor, enquanto mediador, tem o dever de construir um amplo leque de habilidades que, para além dos conhecimentos e práticas instrucionais, incluem o desenvolvimento de competências socioemocionais. Isto é essencial na eficácia da promoção do crescimento dos alunos que estão sob sua responsabilidade, bem como reflete, também, ganhos na carreira e saúde emocional dos docentes.

As competências socioemocionais representam características individuais que se manifestam em padrões de pensamento, sentimentos e comportamentos. Além disso, estão condicionadas aos aspectos biológicos e ambientais herdados pelo professor. Para dar os primeiros passos nesta empreitada, educadores devem trabalhar duas importantes tarefas. 1) Autoconhecimento e; 2) Entendimento a respeito do que são estas competências e como impactam a prática diária.  É importante que o professor compreenda que este caminho de autodescoberta não é engessado e várias são as trilhas possíveis para construir tais habilidades.

Ainda que ele não tenha tido oportunidade de explorar estes aspectos durante sua época de formação pedagógica, as competências podem ser aprendidas a qualquer momento. Além disso, não é uma jornada solitária. A viagem deve ser empreendida em conjunto com colegas, gestores e por meio das diferenciadas relações desenvolvidas com alunos. As práticas e reflexões socioemocionais dizem respeito ao fortalecimento do docente em sua atuação e à construção de um ambiente de bem-estar no trabalho.

Relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), intitulado “Competências para o progresso social”, revela que competências geram competências. Desta forma, as habilidades socioemocionais são cumulativas e não desaparecem ao longo do tempo. Outra coisa interessante é que pessoas com altos níveis de competências emocionais, também apresentam maior probabilidade de desenvolver melhores competências cognitivas.

Em um primeiro momento, o professor deve perguntar-se: “como costumo lidar com desafios do planejamento das aulas?”, “que situações me deixam nervoso ou inseguro?”, “que ações realizo para estimular as trocas com meus colegas?, “como posso me abrir para novas formas de realizar o trabalho?”. A partir destas respostas, será possível delinear mecanismos de ação para fomentar o crescimento das habilidades socioemocionais.  

Para os gestores, a tarefa é construir um planejamento que inclua fases de capacitação e diálogo com os professores (em grupo e individualmente) para reconhecer como este exercício será melhor aplicado. Neste planejamento, podem ser consideradas práticas como 1) criação de uma agenda semanal de atividades formativas, presenciais e virtuais; 2) Fornecimento de apoio psicológico para docentes no ambiente escolar; 3) Disponibilização de materiais sobre o tema que possam ajudar docentes em sua autodescoberta; 4) Organização de dinâmicas colaborativas que enfatizem as competências socioemocionais.

As habilidades a serem desenvolvidas, se dividem em 4 grandes grupos. Confira a especificidade de cada um:

1. Autogestão das emoções e resiliência emocional

Neste caso, o objetivo é construir uma base de bom gerenciamento das próprias emoções, com tranquilidade e positividade, mesmo em situações adversas. Ao saber regular a ansiedade e as respostas ao estresse, além de demonstrar confiança, entusiasmo, e energia nas atividades diárias cria-se maior tolerância à frustração.

2. Conexão com o outro e amabilidade

Envolve trabalhar colaborativamente, conectando-se, pedindo e oferecendo ajuda. Buscar sempre por um ambiente de respeito e valorização da diversidade em sala de aula, acolhendo emoções e ideias de forma afetuosa. Tanto com alunos quanto com colegas. Desenvolver iniciativa social, interesse pelo mundo e assertividade. Estar disposto a conhecer, dialogar e comunicar-se de forma clara e segura. Além do mais, é sempre necessário buscar a empatia e o colocar-se no lugar do outro.

3. Gestão de ensino e aprendizagem

Este grupo de competências se foca no processo de ensino e aprendizagem, preocupando-se com o planejamento e a execução, bem como com o ritmo das aulas e outras atividades. O professor deve ser flexível para abraçar algo que esteja fora do plano sem perder o foco e os objetivos estabelecidos para o ensino. Construir um estilo de trabalho determinado, organizado, responsável e persistente. Com isto, possibilita-se, também, o desenvolvimento de práticas que fogem à procrastinação, questão capaz de produzir altos níveis de ansiedade.

4. Abertura ao novo e inventividade

Envolve ter interesse em aprender e explorar novas ideias, expressando-se pela criatividade. O objetivo é buscar sempre a inovação nas práticas pedagógicas de forma a atender os variados tipos de estudantes durante o processo. Neste caso, o professor volta-se para experiências que potencializam a imaginação, as emoções, o estético e cultural. Esta habilidade abre portas para enxergar o mundo a partir de novas perspectivas, ressignificando práticas e encontrando maneiras mais eficazes de transmitir conhecimento.

Educar, em um mundo dinâmico, conectado e repleto de complexidades (como é a contemporaneidade), requer um olhar atencioso para os docentes enquanto mediadores dos variados processos de aprendizagem. Há que prepará-los para dominar conteúdos, mas também para fazer escolhas e agir com equilíbrio e autonomia. Um professor que desenvolve suas habilidades socioemocionais causa impactos diretos na qualidade escolar. Vamos investir nestes pontos?

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