Em tempos de intenso trânsito e movimentos migratórios, sejam regionais ou internacionais, muitas vezes o docente se encontra em um espaço de aulas em que estão agregados alunos com diferentes referenciais culturais, diferentes costumes, diferentes formas de interação e aprendizagem. Não é raro, no encontro em sala de aula, que mal-entendidos nascidos desta diversidade cultural dificultem a apreensão do conteúdo e até mesmo o trato entre os indivíduos do encontro. Às vezes são os sotaques, as formas de questionamento, peculiaridades linguísticas e até mesmo religiosidades que acabam por produzir obstáculos no processo comunicacional.
Afinal, educar é, por excelência, um processo comunicacional. Como então exercer uma comunicação intercultural de sucesso nestes contextos? Todo professor ou gestor que enfrenta situações como estas em seu dia a dia precisa pensar a educação enquanto processo de “comunicação intercultural”. Também, compreender este processo como uma relação que busca simetria, a despeito das diferenças culturais (grandes ou pequenas) que os diferentes indivíduos apresentem.
A comunicação intercultural em sala de aula deve ser vista enquanto uma jornada que agrega ações construídas a partir de demandas que se apresentam em cada situação particular de interação. É aprender a negociar significados, se abrir para entender o pensamento do outro a partir de sua própria perspectiva. Uma das características fundamentais da comunicação intercultural é a percepção, dos envolvidos no contexto, de que existem diferenças e que neste caminho de aprender-ensinar é preciso buscar vias de superação para tais obstáculos.
Quando um professor pavimenta a estrada desta relação, livre de preconceitos, promove uma atmosfera de cooperação, entendimento, construção coletiva e partilha que amplia significativamente o alcance de seus conteúdos na vida dos estudantes. Por meio do diálogo aberto e que se propõe a aprender sobre o outro, as experiências individuais são valorizadas. Portanto, comunicar interculturalmente em sala de aula é encontrar o espaço em que as muitas partes deste encontro participam umas nas outras sem que sejam obrigadas a apagar-se ou se fundirem, mas dispostas a somar em busca de um equilíbrio que amplie a compreensão a respeitos do outro e do local social em que convivem.
Cada aula, cada interação com o outro (em suas diferentes formas) é um ato de resposta a diferentes vozes. E quando entram em relação pessoas de variados contextos culturais, é frequente que surjam mal-entendidos. Sejam de origem pessoal (na peculiaridade de cada estudante ou professor) ou de origem contextual (quando nascem do tipo de formação familiar/cultural que os indivíduos receberam). Neste caso, é preciso vencer a ansiedade e incerteza que permeiam cada contato com o diferente, encarando estas interações como desafios construtivos. Deixando de lado preconceitos e estereótipos sedimentados pelo tempo e história.
Para vencer estes obstáculos e produzir uma comunicação intercultural de sucesso em suas aulas é essencial desenvolver competências especiais. Para além da vontade e abertura para o encontro com o outro e para deixar que o outro nos encontre, uma comunicação interpessoal satisfatória exige: 1) competência cognitiva; 2) competência afetiva e 3) competência comportamental. Em síntese, é preciso conhecer os diferentes referenciais culturais com que se entra em contato; agir de forma positiva durante a interação educacional; e cultivar um conjunto de destrezas que se voltem para a resolução de problemas nascidos de situações mal interpretadas.
Portanto:
1. Conheça os valores, crenças, marcos culturais que sustentam seus diferentes alunos. Isto permitirá que as atitudes comportamentais em sua prática sejam adequadas a cada situação. Ao conhecer as referências diversificadas dos estudantes, o docente também está apto para fazer perguntas que lhe interessem, observar com cuidado, agir com humildade para aprender e ensinar sem preconceitos.
2. Cultive empatia e tolerância com cada situação ambígua que surja na rotina escolar. É preciso ter flexibilidade e capacidade de se abster de julgamentos. Nunca comece a troca de conhecimentos pensando nas diferenças como “melhores” ou “piores”, “mais aceitáveis” ou “menos aceitáveis”. A disposição – tanto do professor quanto do aluno – em demonstrar abertura mental para lidar com o diferente, adotando o ponto de vista do outro com paciência é primordial para enfrentar situações complexas.
3. Aprenda a utilizar com sensatez o “comportamento visual”. Às vezes, gestos e olhares podem gerar situações de desencontro e má interpretação. A imagem que o professor mostra durante a interação é importante e deve ser pensada antes da ação. Considere que sempre é mais difícil explicar um mal-entendido do que ter cautela no momento de se expressar.
Pronto para enfrentar uma sala de aula diversificada culturalmente? Toda interação comunicativa pode ser enriquecedora, ainda mais quando professores, gestores e alunos cultivam atitudes de abertura para entender a formação e o ponto de vista do outro. Sua escola ou sala de aula pode (e deve) se tornar um ambiente de sucesso relacional e de crescimento exponencial do conhecimento.